Vida
António José da Silva, o Judeu
(1705 – 1739)
António José da Silva, conhecido como o «Judeu», nasceu no Rio de Janeiro em 8 de Maio de 1705 no seio de uma família judaica, e entretanto convertidos (cristãos-novos), que se refugiara no Brasil. Era uma família numerosa e abastada, boa presa para os Tribunais do Santo Ofício, que não só procuravam castigar os hereges, como confiscar todos os seus bens. O seu pai, João Mendes da Silva, era advogado e poeta e conseguiu manter a sua fé judaica secretamente. Porém, sua mãe, Lourença Coutinho, foi acusada de ser judia e deportada para Portugal onde viria a ser julgada pela Santa Inquisição. Aos oito anos de idade, António José é forçado a seguir para Lisboa, onde chega em Outubro de 1712, juntamente com os seus pais, irmãos (Baltasar e André), bem como muitos outros membros das famílias Mendes da Silva e Coutinho. Um ano depois, João Mendes da Silva e Lourença Coutinho são condenados às penas de abjuração, cárcere e hábito penitencial, e confisco de bens. António José e os seus irmãos são colocados num lar.
Com apenas 21 anos, e o curso de Cânones na Universidade de Coimbra interrompido, António José é preso pela primeira vez, acusado de levar uma vida pouco confinante com as regras da moral embora já então se esforçasse por parecer um católico praticante. Acusado de práticas judaizantes é duramente torturado, saindo em liberdade depois do auto-de-fé de 13 de Outubro de 1726 sob pena de cárcere e hábito penitencial perpétuo, obrigado ainda a ser instruído nos mistérios da fé. Entretanto, a mãe, vítima regular da Inquisição, é presa novamente em 16 de Outubro de 1729.
Entre a data de saída das prisões do Santo Ofício e a nova prisão do dramaturgo, desta vez acompanhado de sua mulher, Leonor Maria de Carvalho, com quem se casara em 1735, nada se conhece da vida do Judeu que possa ser documentalmente provado. Alguns biógrafos do comediógrafo levantam a hipótese de ter voltado a Coimbra, para aí completar os seus estudos. Outros, recorrendo à reconstituição de um quadro familiar marginalizado por práticas judaizantes, situam-no em Lisboa, exercendo advocacia. Em todo o caso, neste período da sua vida, António José torna-se num aplaudido autor de comédias no Teatro do Bairro Alto. É um escritor prolífico que critica os ridículos da sociedade portuguesa sua contemporânea.
A 5 de Outubro de 1737, António José é novamente preso (provavelmente após denúncia de uma criada) pelo Santo Ofício juntamente com a mulher e a mãe quando participavam na cerimónia judaica do Yom Kipur. Após longo processo, o dramaturgo é publicamente acusado de convicto, negativo e relapso, acabando por ser relaxado em carne, garrotado e queimado no dia 18 de Outubro de 1739. Nesse mesmo auto-de-fé saíram, igualmente, condenadas a mulher e a mãe mas não chegariam a ser sentenciadas com a pena máxima.
Curiosamente, António José da Silva fora condenado por ser judeu e não por ser o autor das óperas joco-sérias que conheciam estrondosos sucessos no Teatro do Bairro Alto, cuja verdadeira autoria a Inquisição desconhecia. Em Portugal cresceu, estudou, criou fama de teatrólogo e, em Lisboa, sua vida chegou abruptamente a trágico fim. O rei D. João V, altos dignatários, Inquisidores, família e toda uma população curiosa assistiram ao seu último espectáculo. Desta vez, sem risos. Com apenas trinta e quatro anos de idade, o Judeu via descer sobre a sua curta vida o pano de boca definitivo.
(1705 – 1739)
António José da Silva, conhecido como o «Judeu», nasceu no Rio de Janeiro em 8 de Maio de 1705 no seio de uma família judaica, e entretanto convertidos (cristãos-novos), que se refugiara no Brasil. Era uma família numerosa e abastada, boa presa para os Tribunais do Santo Ofício, que não só procuravam castigar os hereges, como confiscar todos os seus bens. O seu pai, João Mendes da Silva, era advogado e poeta e conseguiu manter a sua fé judaica secretamente. Porém, sua mãe, Lourença Coutinho, foi acusada de ser judia e deportada para Portugal onde viria a ser julgada pela Santa Inquisição. Aos oito anos de idade, António José é forçado a seguir para Lisboa, onde chega em Outubro de 1712, juntamente com os seus pais, irmãos (Baltasar e André), bem como muitos outros membros das famílias Mendes da Silva e Coutinho. Um ano depois, João Mendes da Silva e Lourença Coutinho são condenados às penas de abjuração, cárcere e hábito penitencial, e confisco de bens. António José e os seus irmãos são colocados num lar.
Com apenas 21 anos, e o curso de Cânones na Universidade de Coimbra interrompido, António José é preso pela primeira vez, acusado de levar uma vida pouco confinante com as regras da moral embora já então se esforçasse por parecer um católico praticante. Acusado de práticas judaizantes é duramente torturado, saindo em liberdade depois do auto-de-fé de 13 de Outubro de 1726 sob pena de cárcere e hábito penitencial perpétuo, obrigado ainda a ser instruído nos mistérios da fé. Entretanto, a mãe, vítima regular da Inquisição, é presa novamente em 16 de Outubro de 1729.
Entre a data de saída das prisões do Santo Ofício e a nova prisão do dramaturgo, desta vez acompanhado de sua mulher, Leonor Maria de Carvalho, com quem se casara em 1735, nada se conhece da vida do Judeu que possa ser documentalmente provado. Alguns biógrafos do comediógrafo levantam a hipótese de ter voltado a Coimbra, para aí completar os seus estudos. Outros, recorrendo à reconstituição de um quadro familiar marginalizado por práticas judaizantes, situam-no em Lisboa, exercendo advocacia. Em todo o caso, neste período da sua vida, António José torna-se num aplaudido autor de comédias no Teatro do Bairro Alto. É um escritor prolífico que critica os ridículos da sociedade portuguesa sua contemporânea.
A 5 de Outubro de 1737, António José é novamente preso (provavelmente após denúncia de uma criada) pelo Santo Ofício juntamente com a mulher e a mãe quando participavam na cerimónia judaica do Yom Kipur. Após longo processo, o dramaturgo é publicamente acusado de convicto, negativo e relapso, acabando por ser relaxado em carne, garrotado e queimado no dia 18 de Outubro de 1739. Nesse mesmo auto-de-fé saíram, igualmente, condenadas a mulher e a mãe mas não chegariam a ser sentenciadas com a pena máxima.
Curiosamente, António José da Silva fora condenado por ser judeu e não por ser o autor das óperas joco-sérias que conheciam estrondosos sucessos no Teatro do Bairro Alto, cuja verdadeira autoria a Inquisição desconhecia. Em Portugal cresceu, estudou, criou fama de teatrólogo e, em Lisboa, sua vida chegou abruptamente a trágico fim. O rei D. João V, altos dignatários, Inquisidores, família e toda uma população curiosa assistiram ao seu último espectáculo. Desta vez, sem risos. Com apenas trinta e quatro anos de idade, o Judeu via descer sobre a sua curta vida o pano de boca definitivo.
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