quarta-feira, julho 19, 2006

Contextualização Histórica – O Barroco

O termo «barroco» foi utilizado pela primeira vez em meados do Século XVII em sentido pejorativo como sinónimo de decadência das artes. Etimologicamente a palavra deriva do português designando uma pérola não perfeitamente esférica, irregular. Posteriormente terá passado ao francês e, daí, ao italiano e ao alemão. Só no final do Século XIX é que o termo seria resgatado através dos estudos e sistematizações de H. Wölfflin que o utilizou para designar um conceito fundamental da arte e o definiu como um estilo que marca a dissolução do Renascimento ou a sua degenerescência e oposto ao Classicismo. É Wölfflin ainda que estabelece as coordenadas temporais da época – tendo a arte italiana por modelo: nascimento por volta de 1520, maturidade cerca de 1580, uma segunda fase que se afirma cerca de 1630 e se prolonga até 1750, quando é finalmente suplantada pelo gosto Neoclássico. Estas balizas subsistem, grosso modo, até hoje, com algumas reavaliações: assim, considera-se em geral uma data mais ou menos equidestante de 1520 e 1580 como início de algo que se prolonga até cerca de 1630, a que se deu o nome de Maneirismo; e há quem separe, a partir de cerca de 1700, a emergência do Rococó como uma manifestações já autónoma em relação ao Barroco.

O Barroco atinge o seu auge em pleno Século XVII, época de uma profunda crise económica, social e política na Europa. A formação progressiva do conceito de nacionalidade, o apogeu da Contra-Reforma e do Absolutismo, as descobertas científicas de Galileu (que modificaram profundamente a concepção do Universo), foram determinantes para a evolução do Barroco.

A ciência atravessa um período esplendoroso sem precedentes influenciando todas as esferas da vida humana, contribuindo para a criação de uma nova mentalidade. A teoria heliocêntrica (concepção energética e dinâmica do mundo) dá lugar à queda do geocentrismo bíblico onde a dimensão humana inclina-se para a visão do infinitamente grande, o macrocosmos assume valores filosóficos inéditos.

A crise das consciências provocada pela reforma protestante constituiu mais uma força de dissuasão para a transformação da relação Universo / Homem: a cultura barroca criou uma nova percepção do incomensurável «desígnio divino» e uma nova mitologia religiosa. Como contestação à reforma luterana (Protestante), a arte cristã trona-se austera e circunspecta, resgatando a religiosidade e a introspecção. Posteriormente, a necessidade das monarquias demonstrarem o seu poder absoluto e incontestável tornaram a arte sumptuosa e exagerada retirando-a da exclusividade da esfera religiosa para a instalar nos palácios.

O período Barroco caracteriza-se por um preenchimento total dos espaços (abundância e ostentação de formas e riquezas aliada a uma emoção excessiva), pela grandeza dos espaços, pelo movimento, pelas formas arredondadas e dinâmicas (como os floreados), mas também como sendo uma era da fusão máxima das artes sob a dialéctica do dolcere, delectare e movere (ensinar, deleitar e comover) onde o espectacular (festa, luxo e aparatos grandiosos) e a teatralidade (efeitos produzidos, aparências, trompe l’oeil, onde tudo é pensado para criar um efeito) assumem-se como elementos chave.

Com tais características, o Barroco ambicionava seduzir e encandear os sentidos (volúpia estética), inibir através do medo (magnitude dos espectáculos e da arquitectura) e reforçar a ideia de ilusão (mise-en-abyme, teatro dentro do teatro). A cena transforma-se pela primeira vez em ilusão, independente da realidade, um mundo ilusório, um mundo de sonhos. A ilusão e o sonho são a alma do teatro barroco.

Assente numa visão da realidade e numa retórica metafórica do mundo (“all the world is a stage”), a teatralidade do Barroco é colocada ao serviço de uma causa: o poder político. O teatro surge como uma arma, um exercício de demonstração de poder político. O Barroco é o grande momento das festas públicas promovidas e executadas pelo poder civil e religioso para celebrar acontecimentos como nascimentos e bodas reais, recepções de embaixadores, canonizações. Ocorrem, igualmente, uma variedade de celebrações populares em que o povo intervêm, tanto como espectador como executante, onde a festa adquire pleno e totalmente o seu sentido participativo. Mas estas festas, como em muitos outros aspectos da vida social da época, são objecto do mais rigoroso controlo do poder estabelecido que procura a ostentação, propaganda e promoção de fidelidade.

3 Comments:

At 14 agosto, 2007 18:33, Anonymous Anónimo said...

Bom trabalho me ajudou muito obrigado.

 
At 18 novembro, 2007 14:07, Anonymous Anónimo said...

obrigadu..
deu.me uma grande ajuda numa composição sobre o sec.XVII!

bjnhus e abraços

continuem....

:D

Ana,Sto Tirso,Porto,Portugal!

 
At 04 março, 2010 17:30, Anonymous jaci said...

obrigado me ajudou bastante!

 

Enviar um comentário

<< Home

Powered by Blogger