Sociologia dos Públicos
Estratégias de públicos para o exercício-espectáculo Vida do Grande D. Quixote de la Mancha e do Gordo Sancho Pança, de António José da Silva, o Judeu.
Como actuar perante os públicos? Que públicos interessam?
Com quatro apresentações numa sala com capacidade para 130 lugares, totalizando 520 cadeiras, é necessário criar estratégias na captação de públicos onde as especificidades de um exercício escolar implica vantagens e desvantagens perante a concorrência cultural, e não só.
A «explosão» da sociedade industrial e tecnológica, ocorrida na segunda metade do século XIX, deu a possibilidade à população de dispor de mais tempo e dinheiro destinados ao lazer e divertimento. Neste sentido, o conceito de arte e cultura foi sendo adulterado e modificado até aos nossos dias. Foram gerados novos produtos para serem consumidos por massas: rádio, cinema, televisão e internet. A música e o teatro passaram a ser consumidos através de espectáculos de entretenimento e de grande envergadura.
A televisão, o cinema, os espectáculos musicais e teatrais, bem como as novas potencialidades da internet são alguns dos grandes concorrentes na captação do público para este exercício-espectáculo.
Mas a concorrência não surge somente de outras ofertas culturais que ocorram na mesma altura em que a peça terá as suas apresentações. Junho e Julho são meses em que as escolas secundárias terminam e as Universidades se encontram em época de exames e avaliações. Por outro lado, estando no Verão também poderá ser um forte concorrente tendo em conta que é a época do ano onde as pessoas, geralmente, preferem espaço abertos a fechados, e onde alguma parte da população se encontra de férias. E claro, não podemos esquecer que estamos em 2006, ano em que ocorre mais um campeonato do Mundo de futebol e onde os jogos de Portugal paralisarão todo um país faminto de emoções fortes.
Sendo um exercício de alunos de uma escola, o grande público estará mais susceptível a outro tipo de consumos culturais inclinando-se, desta forma, na procura de imaginários, símbolos recorrentes, estereótipos, repetições e na exultação dos seus sentimentos que os grandes eventos proporcionam. São espectadores de divertimentos e consumidores culturais que procuram um bem cultural susceptível de reforçar o seu prestígio social.
Não sendo um espectáculo determinado como uma obra «final e concluída», mas antes um exercício de apresentação do trabalho desenvolvido ao longo de um processo de aprendizagem, deve ser considerado digno de interesse pelo seu estatuto elevado de prática educativa.
Dentro do seu contexto escolar, onde parte da população se distingue por compreender as ambições de colegas e alunos, a definição do público-alvo engloba alunos, professores e funcionários. Alunos e professores são os espectadores perfeitos no sentido em que absorvem a complexidade de uma estrutura textual e representativa e compreendem os antecedentes genéricos de uma produção cultural, possuindo uma relação verdadeira com a obra. O interesse da restante população escolar, os funcionários, prende-se com a procura de um prestígio social suscitado pelo consumo de um bem cultural aliado ao puro prazer de assistir, num contexto de lazer, ao trabalho de pessoas com quem partilham grande parte do seu dia. Deste modo, deve haver uma forte divulgação junto de alunos, professores e funcionários sobre a realização da peça, onde o «boca-a-boca» ganha força através de transmissão de informação e convites efectuados pessoalmente.
A vida de um aluno não gira somente em torno do ambiente escolar. Dentro do seu círculo pessoal, amigos e familiares dos intervenientes no exercício-espectáculo serão um público privilegiado que terá a oportunidade de assistir ao trabalho desenvolvido ao longo de dois anos de formação. O «boca-a-boca» continua a ser factor decisivo da divulgação e promoção da peça.
Outros públicos que se pretende atingir são os alunos que estão a terminar o 12º ano e que vem a possibilidade de ingressar num curso superior de teatro. Sendo assim é necessário enviar informação sobre a peça para escolas secundárias, escolas profissionais de artes, e respectivos conselhos pedagógicos e directores de turma.
Por outro lado, pretende-se captar públicos específicos ligados à procura de novos e potenciais talentos na área representativa, tais como directores artísticos de teatros e companhias, encenadores, programadores de salas de espectáculo, agências de casting e agenciamento de figuração e actores para anúncios e programas televisivos. Para tal, devem ser enviados convites, tanto a nível institucional como pessoal.
Existe igualmente um público mais cultivado que se poderá interessar pela peça, pelo autor, pela época representada, ou simplesmente pelo Teatro em si.
A gratuidade do exercício-espectáculo e a aproximação do Teatro da Politécnica a uma dos locais de diversão nocturna, o Bairro Alto, podem ser dois factores importantes na captação de públicos diversos. A falta de dinheiro devido à crise em que o país se encontra pode levar pessoas à peça. É uma parte da população que gosta de consumir cultura mas que não têm poder de compra para o fazer. Para início de noite nada melhor que um espaço junto de um dos maiores locais da «noite» lisboeta. Situado numa artéria de Lisboa, o Teatro da Politécnica representa um local de fácil acesso através de transportes públicos, pese embora a dificuldade de estacionamento a que a cidade está sujeita. Todas as informações relativas à peça devem ser introduzidas no material gráfico e distribuído pelo Bairro Alto.
Um exercício nunca terá a visibilidade que um grande evento cultural alcança pela mediatização dos mass media, mas deve-se adoptar várias medidas estratégicas de promoção e divulgação para se «atingir» os públicos alvo definidos, sem esquecer a restante população. Assim, é necessário criar um dossier de imprensa e um press release que será enviado a todos os meios de comunicação social (televisão; imprensa escrita – jornais diários, gratuitos, semanais e quinzenais, revistas mensais e semanais, agendas culturais –; rádios; agências de notícias; portais de divulgação cultural), bem como a líderes de opinião (críticos, jornalistas, entre outros). Para que a informação não fique esquecida é necessário um contacto directo e constante com os media para elaboração de noticias e entrevistas. Devem ser igualmente criadas parcerias com órgãos de comunicação social para a passagem de spots e anúncios publicitários, bem como a oferta de bilhetes através de passatempos.
Por último, e de modo a potencializar o uso actual da internet, deve-se criar um blog (atuailha.blogspot.com) como um diário da criação que acompanhará o processo de construção do exercício-espectáculo e no qual todos os intervenientes poderão partilhar as suas ilhas. Numa segunda fase, o blog será difundido na escola junto de colegas e professores, sendo estes últimos convidados a criarem um texto relativo ao exercício, ao autor ou à peça. Posteriormente, em todo o material gráfico e de divulgação será feita a referência ao blog servindo como mais um meio de difusão da peça junto do público. Durante as apresentações, o público que assistir ao exercício será convidado a deixar um comentário, uma impressão sobre o que acabou de assistir.
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