ilhas
Diário da criação pelos alunos do 2º ano do Curso de Teatro (Ramos de Interpretação, Produção e Design de Cena) da Escola Superior de Teatro e Cinema em colaboração com o Teatro Nacional D. Maria II.
Exercício-Espectáculo de teatro, a partir da peça Vida do Grande D. Quixote de La Mancha e do Gordo Sancho Pança, de António José da Silva, o Judeu
quinta-feira, maio 25, 2006
terça-feira, maio 09, 2006
segunda-feira, maio 08, 2006
Seguir para onde?
Seguir para onde?
de regresso às aventuras, e às viagens procurando o amor sem corpo... até onde ficção ou verdade?
Seguir para onde?
O relógio não pára. Os ponteiros marcam sonhos e o desejo de novos destinos.
Seguir para onde?
Pouco importa, partimos de novo «porque o caminho faz-se a andar»
Somos Sanchos e Quixotes, e eles metáforas dos nossos sonhos.
Co-elaboração hugo c. / raquel b.
Obra
António José da Silva, cujas peças ficaram conhecidas como a obra do «Judeu», foi autor do chamado teatro de bonifrates (bonecos articulados), escrevendo peças à altura designadas por óperas. Sob influência da ópera italiana, estas óperas desenvolveram-se substituindo os actores por bonecos articulados, sendo as cenas principais concluídas por árias cantadas. A esta influência do melodrama italiano se juntou a da comédia espanhola, que então dominava o teatro português. A obra do dramaturgo é significativa mais pela concepção do que pelo volume, apresentando uma sátira mordaz de observação, tanto a aspectos da vida setecentista como a certos grupos sociais e profissionais.
A sua obra inicia-se em 1733 com Vida do Grande D. Quixote de la Mancha e do Gordo Sancho Pança. No ano seguinte escreve Esopaida ou Vida de Esopo. Seguem-se então obras de inspiração greco-latina como Os Encantos de Medeia (1735), Anfitrião ou Júpiter e Alcmena e Labirinto de Creta (ambas de 1736), ambos de 1736. A sátira é uma constante na imaginação criadora do dramaturgo e a sociedade em que vive fornece-lhe imensas temáticas. No ano de 1737 escreve As Guerras do Alecrim e da Manjerona e Variedades de Proteu. A sua última produção ocorre em 1738 com Precipício de Faetonte. É-lhe ainda atribuída a autoria de Obras do Diabinho da Mão Furada.
Todas as óperas joco-sérias, como António José as classificou, foram encenadas na década de 1730 no Teatro do Bairro Alto, deliciando pessoas de vários estratos sociais que ali acorriam para se verem ao espelho e deliciarem-se com as grotescas caricaturas das suas próprias taras e manias.
O dramaturgo recupera a prosa dramática e ridiculariza a sociedade sua contemporânea mas também os padrões clássicos da estética do século que o precedeu e que, apesar de tudo, ainda era bastante cultivada nos saraus aristocráticos. Intencionalmente, António José rejeita os modelos estéticos clássicos e os padrões aristotélicos, como as «consagradas» leis das unidades. As suas obras procuravam sobretudo desmitificar a produção teatral e criar um verdadeiro teatro português. Se não foi mais longe, tal ficou a dever-se tanto ao barroquismo que enformava os gostos da época como à curta existência a que teve direito.
A sua obra seria publicada, postumamente, pelo seu amigo e editor Francisco Luís Ameno, sob o título Theatro Comico Portuguez (1744), cujos dois primeiros volumes contêm as oito óperas de António José da Silva, sem menção dos autores. Apenas Labirinto de Creta, Variedades de Proteu, e As Guerras do Alecrim e da Manjerona foram publicadas em vida, nos prelos de António Isidoro da Fonseca, entre 1736 e 1737.
Apesar de uma obra pouco extensa e de uma vida curta, a figura de António José da Silva tem surgido «modelada» como «mártir da Inquisição», aceitando o epíteto com que Teófilo Braga o celebrizou. A sua história inspirou Camilo Castelo Branco, ele próprio de origem judaica, a dedicar-lhe, em 1866, uma das suas novelas – O Judeu. Mas caberia já a um dramaturgo do século XX, Bernardo Santareno, a glória de colocar António José da Silva no panorama teatral, com a peça O Judeu (1966), e na qual alcança um dos mais elevados momentos da dramaturgia portuguesa de todos os tempos pela «narrativa dramática» apresentada. Mais recentemente, a vida do dramaturgo foi encenada por Jom Tob Azulay no filme O Judeu, de 1995.
A sua obra inicia-se em 1733 com Vida do Grande D. Quixote de la Mancha e do Gordo Sancho Pança. No ano seguinte escreve Esopaida ou Vida de Esopo. Seguem-se então obras de inspiração greco-latina como Os Encantos de Medeia (1735), Anfitrião ou Júpiter e Alcmena e Labirinto de Creta (ambas de 1736), ambos de 1736. A sátira é uma constante na imaginação criadora do dramaturgo e a sociedade em que vive fornece-lhe imensas temáticas. No ano de 1737 escreve As Guerras do Alecrim e da Manjerona e Variedades de Proteu. A sua última produção ocorre em 1738 com Precipício de Faetonte. É-lhe ainda atribuída a autoria de Obras do Diabinho da Mão Furada.
Todas as óperas joco-sérias, como António José as classificou, foram encenadas na década de 1730 no Teatro do Bairro Alto, deliciando pessoas de vários estratos sociais que ali acorriam para se verem ao espelho e deliciarem-se com as grotescas caricaturas das suas próprias taras e manias.
O dramaturgo recupera a prosa dramática e ridiculariza a sociedade sua contemporânea mas também os padrões clássicos da estética do século que o precedeu e que, apesar de tudo, ainda era bastante cultivada nos saraus aristocráticos. Intencionalmente, António José rejeita os modelos estéticos clássicos e os padrões aristotélicos, como as «consagradas» leis das unidades. As suas obras procuravam sobretudo desmitificar a produção teatral e criar um verdadeiro teatro português. Se não foi mais longe, tal ficou a dever-se tanto ao barroquismo que enformava os gostos da época como à curta existência a que teve direito.
A sua obra seria publicada, postumamente, pelo seu amigo e editor Francisco Luís Ameno, sob o título Theatro Comico Portuguez (1744), cujos dois primeiros volumes contêm as oito óperas de António José da Silva, sem menção dos autores. Apenas Labirinto de Creta, Variedades de Proteu, e As Guerras do Alecrim e da Manjerona foram publicadas em vida, nos prelos de António Isidoro da Fonseca, entre 1736 e 1737.
Apesar de uma obra pouco extensa e de uma vida curta, a figura de António José da Silva tem surgido «modelada» como «mártir da Inquisição», aceitando o epíteto com que Teófilo Braga o celebrizou. A sua história inspirou Camilo Castelo Branco, ele próprio de origem judaica, a dedicar-lhe, em 1866, uma das suas novelas – O Judeu. Mas caberia já a um dramaturgo do século XX, Bernardo Santareno, a glória de colocar António José da Silva no panorama teatral, com a peça O Judeu (1966), e na qual alcança um dos mais elevados momentos da dramaturgia portuguesa de todos os tempos pela «narrativa dramática» apresentada. Mais recentemente, a vida do dramaturgo foi encenada por Jom Tob Azulay no filme O Judeu, de 1995.
Vida
António José da Silva, o Judeu
(1705 – 1739)
António José da Silva, conhecido como o «Judeu», nasceu no Rio de Janeiro em 8 de Maio de 1705 no seio de uma família judaica, e entretanto convertidos (cristãos-novos), que se refugiara no Brasil. Era uma família numerosa e abastada, boa presa para os Tribunais do Santo Ofício, que não só procuravam castigar os hereges, como confiscar todos os seus bens. O seu pai, João Mendes da Silva, era advogado e poeta e conseguiu manter a sua fé judaica secretamente. Porém, sua mãe, Lourença Coutinho, foi acusada de ser judia e deportada para Portugal onde viria a ser julgada pela Santa Inquisição. Aos oito anos de idade, António José é forçado a seguir para Lisboa, onde chega em Outubro de 1712, juntamente com os seus pais, irmãos (Baltasar e André), bem como muitos outros membros das famílias Mendes da Silva e Coutinho. Um ano depois, João Mendes da Silva e Lourença Coutinho são condenados às penas de abjuração, cárcere e hábito penitencial, e confisco de bens. António José e os seus irmãos são colocados num lar.
Com apenas 21 anos, e o curso de Cânones na Universidade de Coimbra interrompido, António José é preso pela primeira vez, acusado de levar uma vida pouco confinante com as regras da moral embora já então se esforçasse por parecer um católico praticante. Acusado de práticas judaizantes é duramente torturado, saindo em liberdade depois do auto-de-fé de 13 de Outubro de 1726 sob pena de cárcere e hábito penitencial perpétuo, obrigado ainda a ser instruído nos mistérios da fé. Entretanto, a mãe, vítima regular da Inquisição, é presa novamente em 16 de Outubro de 1729.
Entre a data de saída das prisões do Santo Ofício e a nova prisão do dramaturgo, desta vez acompanhado de sua mulher, Leonor Maria de Carvalho, com quem se casara em 1735, nada se conhece da vida do Judeu que possa ser documentalmente provado. Alguns biógrafos do comediógrafo levantam a hipótese de ter voltado a Coimbra, para aí completar os seus estudos. Outros, recorrendo à reconstituição de um quadro familiar marginalizado por práticas judaizantes, situam-no em Lisboa, exercendo advocacia. Em todo o caso, neste período da sua vida, António José torna-se num aplaudido autor de comédias no Teatro do Bairro Alto. É um escritor prolífico que critica os ridículos da sociedade portuguesa sua contemporânea.
A 5 de Outubro de 1737, António José é novamente preso (provavelmente após denúncia de uma criada) pelo Santo Ofício juntamente com a mulher e a mãe quando participavam na cerimónia judaica do Yom Kipur. Após longo processo, o dramaturgo é publicamente acusado de convicto, negativo e relapso, acabando por ser relaxado em carne, garrotado e queimado no dia 18 de Outubro de 1739. Nesse mesmo auto-de-fé saíram, igualmente, condenadas a mulher e a mãe mas não chegariam a ser sentenciadas com a pena máxima.
Curiosamente, António José da Silva fora condenado por ser judeu e não por ser o autor das óperas joco-sérias que conheciam estrondosos sucessos no Teatro do Bairro Alto, cuja verdadeira autoria a Inquisição desconhecia. Em Portugal cresceu, estudou, criou fama de teatrólogo e, em Lisboa, sua vida chegou abruptamente a trágico fim. O rei D. João V, altos dignatários, Inquisidores, família e toda uma população curiosa assistiram ao seu último espectáculo. Desta vez, sem risos. Com apenas trinta e quatro anos de idade, o Judeu via descer sobre a sua curta vida o pano de boca definitivo.
(1705 – 1739)
António José da Silva, conhecido como o «Judeu», nasceu no Rio de Janeiro em 8 de Maio de 1705 no seio de uma família judaica, e entretanto convertidos (cristãos-novos), que se refugiara no Brasil. Era uma família numerosa e abastada, boa presa para os Tribunais do Santo Ofício, que não só procuravam castigar os hereges, como confiscar todos os seus bens. O seu pai, João Mendes da Silva, era advogado e poeta e conseguiu manter a sua fé judaica secretamente. Porém, sua mãe, Lourença Coutinho, foi acusada de ser judia e deportada para Portugal onde viria a ser julgada pela Santa Inquisição. Aos oito anos de idade, António José é forçado a seguir para Lisboa, onde chega em Outubro de 1712, juntamente com os seus pais, irmãos (Baltasar e André), bem como muitos outros membros das famílias Mendes da Silva e Coutinho. Um ano depois, João Mendes da Silva e Lourença Coutinho são condenados às penas de abjuração, cárcere e hábito penitencial, e confisco de bens. António José e os seus irmãos são colocados num lar.
Com apenas 21 anos, e o curso de Cânones na Universidade de Coimbra interrompido, António José é preso pela primeira vez, acusado de levar uma vida pouco confinante com as regras da moral embora já então se esforçasse por parecer um católico praticante. Acusado de práticas judaizantes é duramente torturado, saindo em liberdade depois do auto-de-fé de 13 de Outubro de 1726 sob pena de cárcere e hábito penitencial perpétuo, obrigado ainda a ser instruído nos mistérios da fé. Entretanto, a mãe, vítima regular da Inquisição, é presa novamente em 16 de Outubro de 1729.
Entre a data de saída das prisões do Santo Ofício e a nova prisão do dramaturgo, desta vez acompanhado de sua mulher, Leonor Maria de Carvalho, com quem se casara em 1735, nada se conhece da vida do Judeu que possa ser documentalmente provado. Alguns biógrafos do comediógrafo levantam a hipótese de ter voltado a Coimbra, para aí completar os seus estudos. Outros, recorrendo à reconstituição de um quadro familiar marginalizado por práticas judaizantes, situam-no em Lisboa, exercendo advocacia. Em todo o caso, neste período da sua vida, António José torna-se num aplaudido autor de comédias no Teatro do Bairro Alto. É um escritor prolífico que critica os ridículos da sociedade portuguesa sua contemporânea.
A 5 de Outubro de 1737, António José é novamente preso (provavelmente após denúncia de uma criada) pelo Santo Ofício juntamente com a mulher e a mãe quando participavam na cerimónia judaica do Yom Kipur. Após longo processo, o dramaturgo é publicamente acusado de convicto, negativo e relapso, acabando por ser relaxado em carne, garrotado e queimado no dia 18 de Outubro de 1739. Nesse mesmo auto-de-fé saíram, igualmente, condenadas a mulher e a mãe mas não chegariam a ser sentenciadas com a pena máxima.
Curiosamente, António José da Silva fora condenado por ser judeu e não por ser o autor das óperas joco-sérias que conheciam estrondosos sucessos no Teatro do Bairro Alto, cuja verdadeira autoria a Inquisição desconhecia. Em Portugal cresceu, estudou, criou fama de teatrólogo e, em Lisboa, sua vida chegou abruptamente a trágico fim. O rei D. João V, altos dignatários, Inquisidores, família e toda uma população curiosa assistiram ao seu último espectáculo. Desta vez, sem risos. Com apenas trinta e quatro anos de idade, o Judeu via descer sobre a sua curta vida o pano de boca definitivo.